"No 1o de outubro de 2000, Fernão e eu fomos apresentados à redação numa reunião com os editores. O período Pimenta, com seu desfecho brutal, tinha sido um trauma. Eu vinha da Agência Estado e, nos últimos dez anos, as duas redações não dividiam as mesmas mesas de churrasco. A partilha da empresa em sesmarias de acionistas, com visões e interesses diferentes, tinha erguido muros virtuais e aberto feridas. Dos seis grupos acionários que dividiam o controle da empresa, três eram considerados de ‘jornalistas’ – o do doutor Ruy e seus filhos, o do casal de filhos de Julio Mesquita Neto e o da maior herdeira individual, a filha de Luiz Carlos Mesquita, o Carlão. Os outros três eram grupos de ‘empresários’, ou ‘administradores’. Cada um deles tinha seus subgrupos, alas e facções, que combatiam as suas próprias guerras do Paraguai."
"O doutor Ruy vê com impotente resignação as mudanças da indústria jornalística, a evolução dos novos meios eletrônicos, a perda progressiva de influência dos jornais de papel, a profissionalização das empresas, antes controladas por famílias, cada vez mais transformadas em apêndices de conglomerados financeiros. Ele gostava de chamar o jornal de "indústria do desperdício", porque exige investimentos altíssimos, em recursos materiais e humanos, para produzir dez vezes mais conteúdo do que seria capaz de publicar. A produção abundante cria opções e, com alternativas, é mais fácil optar pela qualidade, ele defende, para desespero dos gestores, para quem abundância é custo. Sempre lutou, nas trincheiras a seu alcance, contra cortes indiscriminados nas redações, porque aos poucos eles minam a qualidade do jornal. Mas, como a divisão clássica da família entre jornalistas e gestores não lhe deixava espaço, nem paciência, nem habilidade para prestar muita atenção em questões de custos e de administração, as reduções cíclicas acabaram acontecendo sem que ele lhes dedicasse mais que algumas horas de aborrecimento e azedume."
Um comentário:
Olá,
fiz um texto crítico sobre um novo tipo de jornalismo que o Grupo Estado de S. Paulo está de testando no JT.
Coloquei um link para este texto seu sobre a família Mesquita.
Se quiser dar uma olhada:
http://nacal.blogspot.com/2008/04/me-dinh-diretora-de-redao-do-jornal-da.html
Abraços,
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