segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Circular: "– Na verdade me vieram algumas idéias – respondeu Sidarta – e de quando em quando tive percepções. Ocorreu-me às vezes sentir, por uma hora e mesmo durante um dia inteiro, a presença do saber no meu íntimo, assim como sentimos o pulso da vida no nosso coração. Certamente refleti sobre muita coisa, mas seria difícil para mim transmitir-te os meus pensamentos. Olha, meu querido Govinda, entre as idéias que se me descortinaram encontra-se esta: a sabedoria não pode ser comunicada. A sabedoria que um sábio quiser transmitir sempre cheirará a tolice.

– Estás brincando? – perguntou Govinda.

– Não brinco, não. Digo apenas o que percebi. Os conhecimentos podem ser transmitidos, mas nunca a sabedoria. Podemos achá-la; podemos vivê-la; podemos consentir em que ela nos norteie; podemos fazer milagres através dela. Mas não nos é dado pronunciá-la e ensiná-la. Esse fato, já o vislumbrei às vezes na minha juventude. Foi ele que me afastou dos meus mestres. Uma percepção me veio, ó Govinda, que talvez se te afigure novamente como uma brincadeira ou uma bobagem. Reza ela: “o oposto de cada verdade é igualmente verdade”. Isso significa: uma verdade só poderá ser comunicada e formulada por meio de palavras quando for unilateral. Ora, unilateral é tudo quanto possamos apanhar pelo pensamento e exprimir pela palavra. Tudo aquilo é apenas um lado das coisas, não passa de parte, carece de totalidade, está incompleto, não tem unidade." (Herman Hesse, "Sidarta”. Lembro que os posts diários voltam no dia 7 de janeiro, após um breve recesso. Obrigado)

Um comentário:

Anônimo disse...

deixe de ser vagabundo e continue bloggando.

transmitir conhecimento é uma forma de atingir perpetuidade.