quarta-feira, 26 de março de 2008

Circular: "Tédio e jogo -- A necessidade nos compele a trabalhar, e com o produto do trabalho ela é aplacada; o renascimento perpétuo das necessidades nos acostuma ao trabalho. Mas nos intervalos, quando as necessidades estão satisfeitas, e, por assim dizer, adormecidas, somos atacados pelo tédio. O que é o tédio? É o próprio hábito do trabalho, que agora se faz sentir sob a forma de uma necessidade nova e adicional; ele será tanto mais forte quanto mais forte seja o hábito de trabalhar -- que será talvez tanto mais forte quanto for o sofrimento causado pelas necessidades. Para escapar do tédio, o homem ou trabalha além da medida de suas necessidades normais, ou inventa o jogo, isto é, o trabalho que não se destina a satisfazer nenhuma necessidade senão a do trabalho por si mesmo. Aquele que acaba por se enfastiar do jogo, e não tem nenhuma nova necessidade a impeli-lo a trabalhar, é, por vezes, atacado pelo anseio por um terceiro estado, que está relacionado ao jogo como o deslizar está relacionado ao dançar, e o dançar ao caminhar: um estado tranqüilo de bem-aventurança no movimento -- essa é a visão que os artistas e os filósofos têm da felicidade." (Nietzsche em "Humano, demasiado humano", citado em "A Filosofia do Tédio", de Lars Svendsen)

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