sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Circular: "Ainda que eu acreditasse naquele Deus com D maiúsculo, em letras góticas, aquele que distribui prêmios e castigos de forma justa, não acharia plausível que esse ser superior me cobrasse pela fé na mesma medida em que cobra outros homens aos quais se revelou de modo mais intenso e definitivo. Seria injusto. Fora dessas situações especiais, a fé é uma construção lenta, uma empreitada para toda a vida. Lenta e dolorosa. Deus precisa morrer, para que os minúsculos deuses – os que não existem, mas tendem a existir – comecem a surgir nas pequenas coisas, muito longe do púlpito, do altar e do andor. E sobretudo da TV. Em outras palavras, eu diria que os deuses dependem de nós. São construções mínimas, íntimas, intransferíveis, e por isso eficientes como o Papai Noel. Mesmo o Deus maiúsculo e soberano, aquele da primeira frase, existe para quem acredita – nisto, creio sinceramente. Portanto, se a mim não foi dada a vantagem de ter fé, ao menos me consola ver o goleiro do meu time fazer o sinal-da-cruz. E que o faça logo, antes do atacante adversário. Pois a hora do pênalti já é um pouco como a hora da morte." (Renato Modernell em "O Deus que funciona")

Nenhum comentário: